3 de março de 2011

                   PROFESSOR E POLICIAL: DUAS VOCAÇÕES?
Defenderei a tese de que os atos de polícia são as ações de professores, continuadas por outros meios.
Recentemente, quando redigia a dedicatória de minha dissertação de mestrado, ao falar de meus pais, que juntos não leram um único livro, destaquei que eles foram capazes de me ensinar valores que são o cerne de minha profissão de professor e policial ou de policial e professor!
Naquele momento nasceu este artigo. Sou policial militar há 21 anos (gosto deste número) e professor nos quartéis nos últimos 15 anos.
A dúvida era : deveria colocar policial ou professor em primeiro lugar. Nós, profissionais de humanas, sabemos que a ordem de apresentação dos itens traz uma carga de significado.
Se alguém me perguntasse: você é policial ou professor, certamente, não teria dificuldades em responder, pois os dois profissionais, quando competentes, sabem que desenvolvem atos políticos, logo, devem ter sempre a melhor resposta.
Contudo, não é função primordial de ambos agradar ninguém e sim preservar algo. O policial cuida da ordem para que o professor possa ensinar tudo a todos.
Somente quem está no poder pretende pintar a história como não-conflituosa, dentro do estratagema milenar de desmobilizar os marginalizados e oprimidos.
Por isso, participação é a alma da educação e da segurança pública compreendida como processo de desdobramento criativo do sujeito social. Porque educar de verdade é motivar o novo mestre, não repetir discípulos.
Os dois profissionais lidam com planejamento. Todo planejamento significa intervenção, pois parte da convicção de que é possível direcionar o curso da história, pelo menos parcialmente.
Paulo Freire ajuda nas ações destas duas vocações dizendo: “a melhor maneira que a gente tem de fazer amanhã alguma coisa que não é possível ser feita hoje, é fazer hoje aquilo que pode ser feito”.
Estou me convencendo de que se o trabalho de professor não for realizado de maneira adequada o policial terá que aplicar um reforço, a própria palavra explica-se por si só, ou seja, usando a força.
Certamente, se o policial usar somente a força, o seu trabalho se perderá. O que une estes dois ofícios é o fato de terem de atuar de forma preventiva, ou seja, com orientação. Citando agora Frei Beto: “eis que surge uma dialética dramática entre a paixão e a razão. Se a razão reprimir a paixão, triunfa a rigidez, a tirania da ordem e a ética utilitária. Se a paixão dispensar a razão, vigora o delírio das pulsões e a ética hedonista, do puro prazer. Mas, se vigorar a justa medida e a paixão se servir da razão para um auto-desenvolvimento regrado, então emergem as duas forças que sustentam uma ética humanitária: a ternura e o vigor”.   
Mas, e a resposta, sou professor ou sou policial. Todos sabem que em todos os Estados da Federação, as três maiores secretarias são as seguintes: da educação, da segurança pública e da saúde, não necessariamente nesta ordem. Se, além de professor, policial eu também fosse médico ou outro profissional da área minha resposta seria mais difícil ainda.
Contudo, foi com esse raciocínio, em um insight, durante o belíssimo show de Milton Nascimento, que me veio a resposta de sua música, que homenageia a minha e milhares de mães e mulheres, quando ele diz... “mas, é preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre. Quem traz na pele essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida”.
Polícia, escola e saneamento definem uma cidade. O que une estes três profissionais, além de manha, graça e sonho é terem fé na vida.
O evangelho, como sempre, pode nos socorrer neste caso. A partir dele fica fácil definir a mais antiga das profissões, que não é a que a linguagem comum repete, cometendo erro que não vou repetir até por que todos conhecem. A mais antiga das profissões surge quando o Mestre disse: “Ide e ensinai o evangelho a toda criatura”.
Sou o que ensina, lembrando que antes é necessário ordem, mas esta também é aprendida. É isso. Aguardo seu e-mail.

Ronilson de Souza Luiz é Oficial da Polícia Militar, Doutor e Mestre em Educação na PUC/SP, Bacharel e Licenciado em Letras pela USP e Instrutor no Centro de Formação de Soldados. E-mail: profronilson@gmail.com


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