27 de janeiro de 2011

 
15/03/10 - 09h55
Publicado Por: Bruna Gavioli

PM treina homens contra terror na Copa de 2014

Como o Brasil nunca teve esse tipo de preocupação, o governo está buscando alianças


Jornal da Manhã
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Policiais militares de São Paulo vão a Israel para aprender táticas de combate ao terrorismo pensando na Copa de 2014. Um grupo de PMs comandado pelo coronel Álvaro Camilo passaram 15 dias estudando formas de prevenir atentados.

Como o Brasil nunca teve esse tipo de preocupação, o governo está buscando alianças com outros países para garantir a segurança no evento. O capitão Ronilson de Souza Luiz, do centro de ensino da PM, explicou que a questão do terrorismo e como agir diante
 
de uma situação dessa, foi a grande lição aprendida durante a visita a Israel. “O coronel tem enfatizado para todos nós é que a segurança pública é responsabilidade de todos”.

Além do treinamento anti-terror, vai ser necessário investir pesado na formação de novos quadros para a Polícia, já que de 2010 a 2014, cerca de 15 mil agentes só do estado de São Paulo vão se aposentar.

Como a preparação de um policial leva mais ou menos quatro anos, é preciso começar a investir agora para garantir a segurança durante a Copa. Cursos de idioma estão sendo ministrados para oficiais e soldados que terão contato direto com turistas de todo o mundo. Os agentes poliglotas vão trazer na farda as bandeiras identificando quais idiomas eles dominam.

Em pelo menos uma das ameaças da Copa do Mundo, os policiais de São Paulo já estão craques: os hooligans. Os anos de trabalho com as torcidas organizadas daqui ensinaram os policiais a controlar torcedores baderneiros e violentos. Porém, a grande incógnita é como evitar que atentados terroristas estraguem a festa e coloquem em risco a vida de atletas e torcedores.

Para o ex-secretário nacional de segurança pública, o coronel Jose Vicente da Silva, o importante é buscar alianças com outros países na área de inteligência. Ele explicou ainda que o Brasil precisa aprender a lidar com a questão para proteger os turistas durante o evento.
 

O POLICIAL DO FUTURO E O TESOURO


Transcreverei as dez características que devem acompanhar e nortear os formadores dos profissionais do futuro.
Antes, porém, faço uma adaptação do que escreveu Marilena Chauí, quando falava de política, para pensar meu campo de atuação.
A filósofa recorre ao Tratado do Político, Baruch Espinosa, lembrando que “todos os que até então escreveram sobre a política, diz ele, nada trouxeram de útil para a prática devido ao moralismo, que os faz imaginar uma natureza humana racional, virtuosa e perfeita e execrar os seres humanos reais, tidos como viciosos e depravados (porque movidos por sentimentos ou paixões). Tais escritores, quando querem parecer sumamente éticos, sábios e santos, prodigalizam louvores a uma natureza humana que não existe em parte nenhuma e atacam aquela que realmente existe”.
Ora, prossegue Espinosa, por natureza, e não por vício, os seres humanos são movidos por paixões, impelidos por inveja, orgulho, cobiça, vingança, maledicência, cada qual querendo que os demais vivam  como ele próprio. Mas também são impelidos por paixões de generosidade e misericórdia, amizade e piedade, solidariedade e respeito mútuo. Pretender, portanto, que na política os homens e mulheres se desfaçam das paixões e  ajam seguindo apenas os preceitos da razão; é comprazer-se na ficção.
A transcrição acima tem como objetivo gerar maior reflexão ao que foi pensado, em Genebra, para o profissional do século XXI, documento conhecido como relatório Jacques Delors.
Lemos na contracapa da edição nacional, publicada pela Editora Cortez, de título Educação um tesouro a descobrir, o destaque para os quatro pilares básicos essenciais a um novo conceito de Educação: aprender a conhecer, aprender a viver juntos, aprender a fazer e aprender a ser.
Estou convencido de que aquelas orientações devem pautar a formação dos novos policiais (civis, militares, federais e os integrantes das guardar civis) de norte a sul, leste a oeste.
Algumas características que não podem ser ignoradas na formação do profissional do futuro, conforme descreveu o professor Roberto Leal Lobo e Silva Filho, com base no livro citado, são :
1. ser flexível - certamente o mais difícil de se trabalhar no processo de formação.
2. capaz e disposto a contribuir para a inovação; e ser criativo - esta característica para o policial, em especial o “de rua” é contemplada diariamente.
3. capaz de lidar com incertezas – embora inerente à profissão, esta habilidade deve ser treinada.
4. estar interessado e ser capaz de aprender ao longo da vida - a estrutura interna das polícias prevê mecanismos que estimulam os policiais a constantes processos de aperfeiçoamento. O meu lembrete é que eles devem alcançar a pós-graduação strictu sensu.
5. ter adquirido sensibilidade social e aptidões para a comunicação - toda a filosofia do policiamento comunitário é baseada neste referencial.
6. ser capaz de trabalhar em equipe - do ponto de vista interno, cada instituição faz isso muito bem; nós, que pertencemos a nova geração de policiais-pensadores, temos o desafio de promover maior diálogo entre as polícias.
7. desejar assumir responsabilidades - costumo dizer aos meus alunos no Centro de Formação de Soldados “Cel PM Eduardo Assumpção”, que por lidarmos com os maiores bens humanos: vida e liberdade, temos responsabilidade ímpar.
8. tornar-se empreendedor – é dever do agente público.
9. preparar-se para o mundo do trabalho internacionalizado por meio do conhecimento de diferentes culturas – é o caminho para avançarmos.
10. ser versátil em aptidões multidisciplinares e ter noções de áreas do conhecimento que formam a base de várias habilidades profissionais, como tecnologias e informática – imprescindíveis.
Encerro citando o filósofo alemão Dilthey, que legou a frase mais impressionante e reveladora, quando lida corretamente: “A vida é uma misteriosa trama de sorte, destino e caráter.”
Aguardo seu e-mail, para que possamos, juntos, descobrir este tesouro.


Ronilson de Souza Luiz, 40, Oficial da Polícia Militar do Estado de Paulo, Doutor e Mestre em Educação na PUC/SP, Bacharel e Licenciado em Letras pela USP, Instrutor no Centro de Formação de Soldados e colaborador na Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares.

Ronilson de Souza Luiz
Estado | | Redação

PM faz pós-graduação para militares

A Polícia Militar, em convênio com a Unitins (Fundação Universidade do Tocantins), lançou ontem a aula inaugural dos cursos de pós- graduação latu sensu em Docência de Ensino Superior, Direitos Humanos e Cidadania, e Polícia Judiciária Militar. A iniciativa é inovadora porque com investimentos próprios a PM tem buscado a excelência para o serviço policial militar.
Segundo o vice-reitor da Unitins, professor Lívio William Reis de Carvalho, “somente as instituições mais eficazes têm iniciativa como esta”, disse, ao comparar esta ação com o procedimento realizado pelo Itamaraty, o Banco Central e o Ministério do Planejamento, que possuem cursos próprios para capacitação do alto escalão.
O diretor de pós-graduação da Unitins, professor Geraldo Gomes, lembrou que a semente desta parceria foi plantada em 2002, quando o comando da Polícia Militar em Araguaína procurou a UFT para discutir segurança. “Daquela época até hoje, tivemos “namoros interinstitucionais’, e daí então o desejo de continuarmos juntos”, afirmou.
Após a conclusão dos cursos, proporcionalmente, a PM do Tocantins terá um nível de excelência dos seus quadros superior ao que a Polícia Militar do Estado de São Paulo possui hoje, afirmou o tenente da PMSP Ronilson de Souza Luiz, doutor em Educação Militar pela PUC-SP. “A Polícia Militar do Tocantins está à frente de outras polícias, mesmo a de São Paulo, que não tem um convênio desta natureza”, afirmou o tenente Ronilson na abertura da palestra “A importância da pós-graduação para a formação de Recursos Humanos”.
As aulas serão ministradas pelo quadro de professores da Unitins, um final de semana de cada mês.
Fonte: Ascom PM - TO

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Ronilson, o tenente doutor.

Aristides e Maria Aparecida vieram do Vale do Paraíba solteiros. Mas casaram-se em Itapevi/SP. Com o emprego de motorista, da antiga TELESP, Aristides tentava criar os quatro filhos.
A dificuldade do final dos anos 60 obrigou Maria Aparecida a ajudar no orçamento da casa. Conseguiu trabalho como empregada doméstica. Não era registrada, mas o salário mínimo que recebia ajudava compor o orçamento familiar e, então, suprir as necessidades básicas.
Ronilson é o segundo filho. A mais velha é Susete, os mais novos, Railson e Robson. Teve um outro irmão que faleceu ainda na tenra idade, por problemas de saúde.
A casa em que moram é muito simples. Apesar de um bom quintal, tem o desconforto do banheiro do lado de fora e o chuveiro improvisado com um balde.
Aristides é um pai carinhoso. Como não pode proporcionar diversão aos filhos, aproveita quando tem algum serviço perto da sua casa e coloca os filhos no caminhão da TELESP e dá uma volta no quarteirão. As crianças ficam inebriadas com isso.
Dona Aparecida leva o pequeno Ronilson com ela para o trabalho. O que era um desconforto para a mãe, ao filho torna-se motivo de festa. De Itapevi até Pinheiros viajavam de trem. No serviço, às vezes passeava de carro com o patrão, e ainda tinha a vantagem de estar com a mãe durante todo o dia.
Mas foi cedo ainda que começou entender uma lição amarga, a do preconceito. Apesar de terem sido os primeiros a chegar ao elevador do prédio do patrão, teve sua mão apertada pela mãe, que o segurava, quando ameaçou entrar. Todos subiram e eles seguiram no outro. O de serviço.
Em 1978 a família saiu de Itapevi e foi morar na Vila Matilde, Zona Leste da Capital. A situação ficou um pouco melhor, afinal o banheiro era dentro da casa.
Precocemente, aos 12 anos de idade Ronilson iniciou sua atividade profissional. Fazia peças de rádio na casa de uma família japonesa e recebia um salário mínimo como pagamento.
O grande sonho do pai de Ronilson é que ele fosse um Sargento do Exército. Quando ficou mocinho, se esforçou para realizar o sonho do pai, mas foi reprovado no exame. Porém, o resultado de sua dedicação aos estudos veio em 1990 quando ingressou na Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Cinco anos depois foi declarado Aspirante a Oficial.
O jovem Ronilson tinha um desejo, dedicar-se ao estudo. Então iniciou a graduação em Letras, na Universidade de São Paulo, concluindo em 1998. Mesmo ano em que decidiu assumir compromisso de matrimônio com a moça que conheceu na caserna, e que já namorava a algum tempo, a soldado feminino PM Miralva.
O conselho da sogra para Miralva foi bem simples. “Minha filha, o menino é bonzinho. É só você arrumar um cantinho pra ele, dar uns livros e um copo de leite, de vez em quando, que ele não te dá trabalho.”
A determinação de Ronilson, alicerçado no apoio e incentivo que recebeu de sua companheira, foi fundamental para que atingisse o seu objetivo. Agora ele tinha pegado gosto pelo saber e descoberto aonde queria chegar.
Nos últimos dez anos ele direcionou sua força e disciplina para o estudo. Foi privado de algumas coisas, só que agora por opção.
Em maio de 2008, o 1º Tenente PM Ronilson de Souza Luiz, de 37 anos de idade, atualmente exercendo a função de relações públicas do CPA/M-1, recebeu o título de doutor em educação. Foi a vitória da esperança e da superação. Tem ainda muitos sonhos, sobretudo contemplando o ensino na Polícia Militar.
Apesar de seus pais serem de pouca fala, senhor Aristides externou sua satisfação com a frase: “Quem diria que daquela casa em Itapevi sairia um doutor, eim?
O tenente Ronilson deixa uma lição de vida aos seus 93 mil companheiros de Instituição. Com fé e trabalho, o sonho fica possível.

2 comentários:


Erica disse...
tive aulas com esse Professor e foi muito gratificante conhecer sua históri de vida, de lutas, pois sabe-se da dificuldade que é estudar nesse país.
Anônimo disse...
Tive o privilegio de ser um de seus alunos, ele é o cara, sabe tudo e mais um pouco. Não esqueço de como nos chamava "sem luz" Parabés!!!!

O prisioneiro da grade de ferro


O prisioneiro da grade de ferro

Sábado, 17/07/2004 - 20:06

 Ronilson de Souza Luiz

Como ensina o escritor português José Saramago: para ver melhor as coisas há que se lhe dar a volta. Utilizo, nesta oportunidade, um título de filme como mote para as minhas reflexões. A razão desta escolha deixo, como lembra o professor Rubem Alves em suas palestras, quem sabe, no futuro, quando alguém se interesse por meus rabiscos e venha a dizer: "... aquele articulista, policial, educador ou o
que quer que seja quis dizer isso quando escreveu aquilo".

Sei que o mais importante nunca se conta. A história secreta se constrói com o não-dito, com o subentendido e a vaidosa alusão. Acredito que nossas escolhas ainda que inconscientes guardam sempre um paralelo com nossos desejos e inquietações mais imediatos, com as nossas provisórias certezas.

O mote que me atrevo a utilizar, hoje, é do premiado documentário de Paulo Sacramento, que tem a ver com a possibilidade que temos para repensar o que está presente e fazemos isso de várias formas.

Um bom filme tem o papel fundamental de muito mais que entreter, tentar reverter. Retratar o homem em sua intimidade, em seu dia-a-dia de preso faz com que cada um nós reflita sobre algo que não quer se calar, ou seja, vivemos a cada dia em uma sociedade de controle.

Esse registro cinematográfico me fará um dia lembrar, por exemplo, que a época assistíamos às mortes anunciadas no Zoológico de São Paulo, quando alguém usou a metáfora do pai explicando a seu filho que os “bichos” ficavam presos dentro da jaulas para protegê-los de nós humanos, ou a emblemática cena do traficante sendo carregado em um carrinho de mão utilizado na construção civil, e que foi capa de vários jornais.

Por conta da preciosidade do tempo, somos pressionados para irmos direto ao ponto ou para reduzirmos a uma cena todo um contexto histórico, o que faz com os textos mais ricos sejam aqueles que conseguem abarcar o todo de forma sintética.

Ao fazer um esforço de precisão intelectual, a meu ver, o aprendizado que obtemos do filme é quanto a marca humana por excelência: a lágrima nos olhos.

Sacramento quando registra o olhar desolado e, na seqüência, o vemos lacrimejando, é como se o preso dissesse ao mundo: errei, devo ser punido ou reeducado! E em seu, ou nosso oculto pensar surge a questão: mas é esta a forma?

Aquele olhar tem o peso da cena descrita em artigo de Contardo Calligaris, na Folha de S.Paulo, quando ele relembra o gesto de Rosa Parks, a costureira negra que, num dia de 1955, em Montgomery, Alabama, sentou-se nas fileiras do ônibus reservadas aos brancos e não quis mais se mexer.

Ela não pedia compensação por danos sofridos nem, a bem dizer, lutava por um futuro diferente. A repercussão de seu ato (que iniciou o movimento americano dos direitos civis liderado por Martin Luther king) deve-se, provavelmente, ao fato seguinte: Rosa Parks não cobrou créditos passados nem futuros, apenas revoltou-se, ou seja, autorizou-se a viver o presente que queria e que lhe parecia justo. Coma isso, transformou a sua vida e o mundo.

O filme de Sacramento pode não transformar o mundo mas traz novos ares a milhares de detentos.

O inesperado do filme surpreende-nos. O homem é alimentado por um gênio criativo que sempre nos surpreenderá. Tento ao interpretar fazer um trabalho similar ao de um historiador ou assim como o do arqueólogo, que deve procurar desvendar o passado da humanidade, reconstruir os seus eventos, fazer reviver a vida dos homens de outrora, reconstruir as sociedades já desaparecidas na voragem dos tempos.

A história, no sentido restrito e tradicional do termo, estuda e faz reviver o passado da humanidade baseando-se nos documentos escritos, enquanto a arqueologia se baseia, para alcançar o mesmo fim, em toda a espécie de vestígios materiais não-escritos, desde edifícios
gigantescos aos pólens microscópicos. Em ambos os casos, pois, se faz história no sentido amplo, completo e verídico do termo; como fez Paulo Sacramento e equipe, pois deram a volta e viram melhor.

Fecho com o mesmo Rubem Alves, que aquela sentença inicial completa: ... o autor não quis dizer -- ele disse. Aguardo seu e mail.

* Ronilson de Souza Luiz é Oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Mestre e Doutorando em Educação na PUC/SP, Bacharel e Licenciado em Letras pela USP e Instrutor no Centro de Formação de Soldados.


 material extraído do jornal on line:
http://www.jornaldamidia.com.br/noticias/2004/07/Opiniao/17-O_prisioneiro_da_grade_de_ferr.shtml